I. S. Révah
(Berlim, 1917-Paris, 1973)
Paris, 16/XI/68


Caro amigo,

Agradeço de todo o coração o envio dos seus dois livros, que me interessaram muito. Apreciei particularmente os seus capítulos sobre a heterodoxia e sobre “ideologia e dogmatismo”.
Demorei a escrever-lhe porque acabo de passar três meses na cama com uma ciática abominável, desencadeada no dia da minha partida de Lisboa, ou seja, exactamente no dia 11 de Agosto. Retomo com dificuldade uma vida normal…

Muito amigavelmente seu, I.S. Révah


Israel Salvator Révah foi um hispanista francês, nascido em Berlim, cuja família era originária de Salónica. Em Paris, sob a orientação de Lucien Febvre and Marcel Bataillon, estudou temas quinhentistas. Após a Segunda Guerra Mundial, trabalhou como professor de Espanhol em Bordéus e Saint-Maur e como investigador e professor no Instituto Francês de Lisboa., onde publicou vários textos sobre o judaísmo ibérico e Gil Vicente. Em 1955 é nomeado director de estudos na École des Hautes Études e, em 1966, torna-se professor no Collège de France, regendo a cadeira de Línguas e Literaturas Ibéricas e da América Latina. Durante os últimos anos de vida, dedicou-se quase exclusivamente a temas sefarditas, nomeadamente às particularidades linguísticas do Ladino, a sua língua materna. Na sua avaliação do papel dos judeus, dos cristãos-novos e da inquisição na cultura ibérica, defendeu a centralidade dos factores religiosos por oposição à abordagem sociológica de, por exemplo, António José Saraiva. Dois anos após o aparecimento do livro Inquisição e Cristãos-Novos (Porto: Editorial Inova,1969), I. S. Révah contestou as teses defendidas por Saraiva, “porque elas não acolhiam prima facie as histórias relatadas nos processos inquisitoriais portugueses” (Herman Prins Salomon). O debate entre os dois professores aconteceu nas colunas do suplemento literário do Diário de Lisboa, entre Maio e Setembro de 1971.