José Cardoso Pires
(Vila de Rei, 1925-Lisboa, 1998)
Meu caro Eduardo Lourenço,

Entre sinais e símbolos acabo de percorrer hoje mesmo o seu mapa das constelações que povoam a nossa escrita deste quase meio século.
Admirei nele o sensível registo das navegações que nele aponta e o prazer inteligente com que lhes traça as coordenadas. Felicito-o muito sinceramente por isso e por reconhecer neste seu Canto do Signo1 um trajecto essencial da minha linha do Destino que, no entanto, é para mim, e será sempre, alguma coisa ensombrada de caprichos e intenções enquanto viva. Uma linha de destino incerto, talvez eu a queira assim – mas que se há-de fazer?

Um abraço de estima e admiração do seu

José Cardoso Pires
8 de Maio 95

1 Eduardo Lourenço, O Canto do Signo: Existência e Literatura (1957-1993), Lisboa, Editorial Presença, 1994.
José Augusto Neves Cardoso Pires nasceu a 2 de Outubro de 1925, no concelho de Vila de Rei, em Castelo Branco. Muda-se, ainda criança, com os pais para Lisboa, cidade que ocupará um lugar de destaque na sua obra. Exerceu várias profissões, da marinha mercante à redacção de uma revista feminina. Em 1949, publica o seu primeiro livro, Os Caminheiros e Outros Contos, retirado de circulação pela censura. Nos princípios dos anos 50, foi detido pela PIDE depois da apreensão do seu livro de contos Histórias de Amor. Em 1963 publica Hóspede de Job, livro que lhe valeu o Prémio Camilo Castelo Branco em 1964. O Delfim chega às livrarias em 1968. Em inícios dos anos 70, foi leitor no King’s College da Universidade de Londres. Em 1982 publica A Balada da Praia dos Cães, Grande Prémio de Romance e Novela da Associação Portuguesa de Escritores. Em 1995 sofreu um acidente vascular cerebral que o levou a ficar algum tempo em estado de coma. Recuperado, publica em 1997 a obra De Profundis, Valsa Lenta e, mais tarde, Lisboa, Livro de Bordo. Morreu em Lisboa, a 26 de Outubro de 1998.
Na terceira parte de O Canto do Signo: Existência e Literatura (1957-1993) (Lisboa, Editorial Presença, 1994), Eduardo Lourenço faz um balanço sobre a literatura portuguesa, dedicando algumas páginas à obra de José Cardoso Pires.