Luís de Sousa Rebelo
(Lisboa, 1922 – S. João do Estoril, 2010)
Eduardo Lourenço
1130 Avenue de Provence
06140 Vence
França
Londres, 27.xii.1994

Meu caro Eduardo Lourenço,

Foi para mim um grande prazer tê-los tido aqui em Londres e só tenho imensa pena que este admirável convívio não possa ser mais frequente. Farei tudo para que isso seja possível. Conversar consigo, ouvi-lo e dialogar foi uma oportunidade inesquecível e guardo desses dias uma bela e estimulante recordação.
Teve agora o meu Amigo a gentileza de me enviar o seu livro, O Canto do Signo1, com uma dedicatória que só se justifica pela sua generosidade. Obra de grande honestidade e lucidez, onde a acribia de juízos concorre com a audácia de um pensamento crítico, que capta melhor do que ninguém a essência do nosso imaginário nos seus muitos labirintos, ela constitui um marco fundamental no conhecimento da vida intelectual portuguesa deste século. Problematizando os temas, sondando-os com grande astúcia e finura, o Eduardo Lourenço desvenda sempre mundos novos, abre caminhos inesperados e fá-lo com a beleza de um estilo, que cativa, revela e seduz com a luminosidade da inteligência. Creia que lhe estou gratíssimo pela oferta e leio e releio este O Canto do Signo com a paixão com que o Fernando Pessoa lia o Cesário Verde.
Peço-lhe que apresente os meus cumprimentos a sua esposa e creia-me seu amigo e admirador,
Luís de Sousa Rebelo
1 O Canto do Signo. Existência e Literatura (1957-1993). Lisboa: Editorial Presença, 1994.
Com o timbre do King’s College de Londres, a missiva datada de 27 de Dezembro de 1994 é umas das quatro cartas autógrafas que Luís de Sousa Rebelo endereçou a Eduardo Lourenço. Sousa Rebelo, professor e crítico literário, licenciou-se em Filologia Clássica na Universidade de Lisboa. Foi Leitor de Cultura Portuguesa na Universidade de Liverpool (1948-54) e em Dublin, no University College e no Trinity College (1952-54). Em 1956, foi nomeado Professor de Cultura Portuguesa no King’s College de Londres. Em 1987, foi-lhe conferido o título de Professor Emérito da Universidade de Londres, onde permaneceu como Calouste Gulbenkian Senior Fellow. Colaborador regular de revistas literárias e enciclopédias portuguesas e estrangeiras, tem uma vasta obra dispersa. Entre a bibliografia principal encontra-se Shakespeare Para o Nosso Tempo (1966); A Tradição Clássica na Literatura Portuguesa (Lisboa: Livros Horizonte, 1982) e A Concepção do Poder em Fernão Lopes (Lisboa: Livros Horizonte, 1983).