Centro de Estudos Ibéricos
Exmo. Senhor
Professor Eduardo Lourenço
1130 Av. de Provence
06140 VENCE
FRANCE


PROCESSO: S-1-2 DATA: 10-12-03

Caro Professor,
Conforme a nossa conversa telefónica, junto lhe envio cópia do Regulamento do Prémio a instituir pelo Centro de Estudos Ibéricos e que terá o seu nome. Pretendemos que este prémio tenha como finalidade incentivar a investigação e a divulgação da cultura ibérica, reforçando aquela que foi a ideia do Senhor Professor e o objectivo da criação do CEI.

Envio igualmente o texto da sua conferência «Oito Séculos de Altiva Solidão», proferida por ocasião da Sessão Solene dos 800 anos da cidade da Guarda, para ser corrigida. Este texto será publicado numa Antologia de textos do Senhor Professor a coordenar pela Prof.ª Maria Manuel Baptista1. É nossa intenção que esta Antologia possa ser editada por ocasião da inauguração da sede do Centro de Estudos Ibéricos.

Queira aceitar, Senhor Professor, os meus melhores cumprimentos,

Virgílio Edgar Garcia Bento
Coordenador do CEI


1 BAPTISTA, Maria Manuel (ed.), O Outro Lado da Lua: A Ibéria segundo Eduardo Lourenço. Porto/Guarda: Campo das Letras/ Centro de Estudos Ibéricos, 2005.
A 27 de Novembro de 1999, na Sessão Solene Comemorativa do Oitavo Centenário do Foral da Guarda, Eduardo Lourenço proferiu uma conferência intitulada «Oito Séculos de Altiva Solidão», génese do Centro de Estudos Ibéricos (CEI). Desfazendo equívocos, Eduardo Lourenço sugeriu que nos consome «uma ideia falsa de interioridade»: «O mar, que a Beira e a sua cidade não receberam em companhia, está há séculos diante desta cidade. Como ameaça mais ou menos onírica, mas simbólica para a sua e nossa identidade. Já não se chama Castela, chama-se Espanha., não porta para a Europa, mas a Europa vizinha, a Europa próxima, hinterland natural do nosso rectângulo mágico. […]
Eu penso que nesta cidade se podia imaginar qualquer coisa como um Instituto da Civilização Ibérica, onde os nossos laços comuns que só Oliveira Martins foi capaz de apreender fossem repensados para que nós soubéssemos efectivamente quem somos e onde estamos, não tão isolados como imaginamos, mas sempre sob o olhar dos outros, para sabermos quem é o outro, com quem devemos dialogar e assim nos defender de uma maneira diferente da que foi a nossa durante séculos. Essa é a vocação que eu desejo para a Guarda. Que ela seja hoje a sentinela dum futuro comum para uma Ibéria que é um dos pólos desta Europa onde todos nós queremos estar e, onde querendo ou não, já estamos».
O sonhado Instituto da Civilização Ibérica acabou por se chamar Centro de Estudos Ibéricos e surgiu exactamente um ano após a Sessão Solene dos 800 anos da cidade da Guarda. A 27 de Novembro de 2000 foi celebrado, entre a Câmara Municipal da Guarda, a Universidade de Coimbra e a Universidade de Salamanca, o Protocolo para a criação do CEI.
O Prémio Eduardo Lourenço, galardão instituído pelo Centro de Estudos Ibéricos e destinado a premiar personalidades ou instituições com intervenção relevante no âmbito da cultura, cidadania e cooperação ibéricas, foi atribuído, pela primeira vez, em 2004, a Maria Helena da Rocha Pereira, Professora Catedrática da Universidade de Coimbra. Seguiram-se outras personalidades de relevo de Portugal e Espanha: a pianista Maria João Pires (2007), os professores e investigadores Jerónimo Pizarro (2013) e Antonio Sáez Delgado (2014) e os escritores Agustina Bessa-Luís (2015) e Luis Sepúlveda (2016).