Hélia Correia
(Lisboa, 1949)
No Acervo de Eduardo Lourenço, encontra-se uma dezena de missivas enviadas pela escritora Hélia Correia a Eduardo Lourenço entre 2011 e 2015.
Na sua maioria postais, enviados de Lisboa, mas também de Oxford e Florença, têm em comum a admiração e amizade de Hélia Correia, bem como a maneira muito própria como a autora contempla o mundo. Na carta em apreço, datável de 24 de Março de 2011, Hélia Correia agradece a leitura do romance biográfico Adoecer (em que aborda a história de amor entre Elisabeth Siddal e o poeta e pintor pré-rafaelita Dante Gabriel Rossetti), publicado em Lisboa, pela editora Relógio d’Água, no ano anterior.
Por outro lado, faz referência ao Yule (uma celebração solsticial própria do Norte da Europa pré-Cristã) e ao carácter autónomo e independente dos gatos («os gatos são sempre, e só, visitantes»), numa concepção particular da realidade, em certa medida inseparável da sua produção romanesca. Não é certamente por acaso que este postal reproduz um papel de parede da autoria de William Morris, contemporâneo e amigo de Dante Gabriel Rossetti. Outro postal (sem data) é ilustrado com Beata Beatrix (1877-1882), o retrato de Elisabeth Siddal pintado por Rossetti, patente no Birmingham Museum and Art Gallery.
Fascinada pelo teatro e pela Grécia Clássica, Hélia Correia é autora de, entre outras obras, Montedemo, A Casa Eterna e Soma. Em 2002, recebeu o Prémio Pen Clube Português pelo romance Lillias Fraser. Adoecer recebeu o Prémio Literário Fundação Inês de Castro em 2011. Hélia Correia foi galardoada com o Prémio Camões em 2015.
[2011 Mar. 24]


Meu muito, muito querido Professor:

O encantamento em que a sua carta de Ano Novo me deixou levou a que a tenha guardado sempre comigo nas várias andanças do trimestre – que incluíram um Janeiro cheio de celebrações Yule, isto é, solsticiais…
O gatinho de olhos azuis e a sua história da gatinha visitante – os gatos são sempre, e só, visitantes – tão deslumbrada me têm que fiquei sem os meios de responder. Perdoe-me, peço-lhe, este grande atraso.
O meu Adoecer1 está muito grato pela bondade da sua leitura e pelo braço protector que lhe estendeu. Também para dizer da felicidade – do livro e minha – que a sua apreciação nos traz nos falecem palavras.
Bem-haja.
Receba o beijo de admiração e amizade do coração da Hélia.

1  Lisboa: Relógio d’Água, 2010.