Fernando Pinto do Amaral
(Lisboa, 1960)
Lisboa, 14.3.93,


Meu caro Eduardo Lourenço:

Gostei muito de receber a sua carta a respeito do meu livro1, e nem sei o que hei-de dizer-lhe perante a sua reacção. Só consigo repetir para mim próprio que o maior valor da chamada “literatura” está em gestos como o da sua carta, que mostra a sua grande juventude – maior que a de muitos com menos anos, mas muito mais certezas… Tem razão quando diz que os nossos enigmas se revelam às vezes mais interessantes que os dos outros, mas saiba que no seu caso, mesmo através dessa humildade (como se notava na sua correspondência c/ o Sena, p. ex.), o seu rosto tem sobressaído por entre os que optou por retratar, e os seus textos críticos são daqueles em que vale por vezes mais a arte do fotógrafo do que a beleza de quem se deixa fotografar. Sei que compreende (demasiado bem?) isto que lhe digo, mas estamos condenados a continuar assim – no fundo, talvez seja tb. uma forma de irmos descendo ao desconhecido de nós mesmos. Um grande abraço muito amigo do

Fernando Pinto do Amaral


1 Provavelmente, A Escada de Jacob. Lisboa: Assírio & Alvim, 1993.
Após abandonar o curso de Medicina, Fernando Pinto do Amaral inscreveu-se na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa em 1982. Em 1986 termina a licenciatura em Línguas e Literaturas Modernas e, no ano seguinte, inicia a carreira de docente na mesma instituição. Em 1990 conclui o mestrado e inicia o seu percurso literário enquanto autor, poeta e ensaísta, publicando, entre outras obras, Acédia (poesia, 1990) e O Mosaico Fluído: Modernidade e Pós-Modernidade na Poesia Portuguesa Mais Recente (ensaio, 1991), obra galardoada com o Prémio PEN Clube Português.
A partir de meados dos anos 90, Fernando Pinto do Amaral assume um papel activo na promoção da literatura em Portugal. Em 1996 integra a direcção da Fundação Luís Miguel Nava e também o conselho editorial da revista Relâmpago (publicada desde 1997), tendo ainda colaborado com outras publicações, como o Jornal de Lisboa, o jornal Público, o Diário de Notícias, bem como as revistas Colóquio/Letras, LER e A Phala. É ainda de referir a sua actividade como tradutor das Flores do Mal, de Charles Baudelaire, Poemas Saturnianos e Outros, de Verlaine e a Obra Poética, de Jorge Luís Borges.
Fernando Pinto do Amaral foi o comissário da exposição “100 Livros do Século” (CCB, 1998), tendo igualmente comissariado as presenças portuguesas na Feira do Livro de Frankfurt, em 1998 e 1999, do Salão do Livro de Genebra, em 2001, e na LIBER – Feira do Livro de Barcelona, em 2002. Em 2009 Fernando Pinto Amaral iniciou funções de comissário do Plano Nacional de Leitura. É ainda membro permanente do júri do Prémio Dom Dinis, da Fundação da Casa de Mateus.