Américo Castro
(Cantagalo, 1885-Lloret de Mar, 1972)
[…] As suas páginas [de Heterodoxia I] são do mais inteligente que li em Português, e acredito que fará coisas de muita importância, se conseguir libertar-se da ideia de que escreve para que as pessoas o julguem sábio e muito versado na «current culture of the world». Tome o seu problema, um problema verdadeiramente seu, e lute com ele até o dominar. Porque não pesquisar, com objectividade vital, o que é a vida do português, sem pessimismo, sem nacionalismo, sem vaidade? Estou convencido de que os portugueses fizeram grandes coisas, e esperaria muito deles se os mais dotados se lançassem ao trabalho de acordo com as suas possibilidades. Ver quais estas são, é o seu «job».
Américo Castro Quesada (1885-1972), filólogo e crítico literário espanhol, estudou na Universidade de Granada e na Sorbonne. Em 1915, tornou-se professor da Universidade de Madrid. Com o início da Guerra Civil Espanhola, partiu para os Estados Unidos da América onde ensinou nas universidades de Wisconsin-Madison, Texas e Princeton. Américo Castro conheceu Eduardo Lourenço numa visita a Portugal em 1949 («El verano passado estuvimos en Lisboa y Ericeira [...] El paisage, Obidos, Leiria, Coimbra, Setubal nos ha gustado mucho...» – Carta a Marcel Bataillon, Princeton, New Jersey, 11 de Novembro de 1949). Com a filha e o genro (o filósofo Xavier Zubiri), Américo Castro visitou Coimbra acompanhado por Eduardo Lourenço. Embora só se conheça uma carta de Américo Castro no Acervo de Eduardo Lourenço, datada de 15 de Setembro de 1950, a mesma contém sugestões premonitórias acerca dos interesses intelectuais do então jovem assistente universitário.