A Europa Desencantada Para uma Mitologia Europeia, 1994 Lisboa, Visão
[…] Na continuação de livros admiráveis onde o fascínio da inteligência e o deslumbramento da serenidade nos ensinam muito sobre nós próprios, E. Lourenço, percorrendo alguns acontecimentos da história recente como a Guerra do Golfo e o “naufrágio europeu no golfo”, ou a queda do muro de Berlim, pensa esta crise a partir da constelação filosófica que marca o declínio da própria ideia da Europa, para concluir que, tanto ao nível prático como simbólico, a Europa deixou de ser o sujeito da história e o alcance dos seus gestos deixou de ser universal: “É uma ilusão imaginar que, herdeiros de uma civilização que construiu catedrais, pintou a Sistina e descobriu as leis da natureza, isto nos baste para erigir o que nem ousamos já designar como “cultura europeia” em baluarte ou refúgio”.

Para salvaguardar o futuro do sonho europeu é urgente repensarmos esta Europa desencantada transformando a nostalgia na dinâmica própria da cultura europeia. Este é o pensamento de um “europeísta convicto” que “não deseja o triunfo dos “coveiros da Europa”, o pensamento guiado pela “paixão pela Europa e amor ao Portugal que penosamente acompanha a aventura europeia”. Só assim, “herdeiros de uma cultura de diálogo”, “faremos Europa”.
Maria João Silveirinha in Jornal de Leiria, 3/11/1994.